quarta-feira, 12 de abril de 2017

Pague Para Entrar, Reze Para Sair (1981) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
________________________________________________

Todos sabem que nosso território nacional adora alterar os nomes dos filmes lançados internacionalmente, entregando pérolas que sempre me deixaram intrigado. Por exemplo: Airplane (1980) virou Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu, outro curioso é Beverly Hills Cop (1984) conhecido aqui como Um Tira da Pesada... Não ficou convencido? E o bizarro Anguish (1987), que aqui virou Os Olhos da Cidade são Meus... (???) Na crítica de hoje temos um caso parecido, pois o filme The Funhouse (algo como “Casa Maluca”), foi transformado em Pague Para Entrar, Reza Para Sair; um titulo duvidoso, porém muito nostálgico e que se encaixa perfeitamente no contexto retratado.

Se existiu um ano que rendeu MUITOS filmes do gênero slasher, esse ano foi 1981, sem sombra de dúvidas. Como sempre venho falando, foram inúmeras películas lançadas somente pelos estadunidenses. A lista é imensa, vai desde Evil Dead, Dia dos Namorados Macabro, Quem Matou Rosemary?, Aniversário Sangrento, Sexta-Feira 13 Parte II, Halloween II... Isso é somente uma pequena porcentagem do que tivemos naquele ano. Uma produção que se destaca no meio de tantas é o slasher Paguei Para Entrar, Reze Para Sair, que apesar de limitado e datado em alguns momentos, não deixa de ser uma ótima descontração do gênero sangrento.

Na direção temos ninguém menos que Tobe Hooper (ele mesmo, de Poltergeist – O Fenômeno e O Massacre da Serra-Elétrica), nesta época ainda com carga inspiradora e uma boa visão; ahhh, como gosto de Tobe Hooper! Mesmo após os anos 80, quando o diretor começou a errar a mão em quase todos os filmes que estava envolvido, seus filmes sempre foram importantes em minha vida. Sou tão saudosista com esse morfético, que até mesmo Mangler – O Grito de Terror (1995) consegue me render uma boa sessão com algumas cervejas. Mas então... O que Hooper preparou desta vez? Posso dizer que uma trama extremamente simples e interessante, mostrando a trágica experiência do grupo de jovens que decide passar uma noite escondidos em um parque de diversões, após o local fechar. Tem como dar certo?

Uma abertura cheia de homenagens.

No começo, Hooper faz ótimas homenagens para Halloween (1978) e Psicose (1960), quando o garotinho Joey (Shawn Carson) simula assassinar sua irmã assim como Michael Myers fez com a dele (até mesmo vestindo a máscara na perspectiva de “primeira pessoa”). No momento, ela estava tomando banho igualzinho Marion Crane do filme de Hitchcock. Os jogos de câmera lembram muito. Um ótimo começo, onde já percebemos a rivalidade dos irmãos e a paixão do garoto Joey pelo tema “horror”: seu quarto é cheio de máscaras e pôsteres do terror clássico, facas de mentira, até rola A Noiva de Frankenstein (1935) passando na televisão. Por outro lado, sua irmã adolescente Amy (Elizabeth Berridge, nossa final girl da vez) despreza todas as atitudes do irmão, principalmente quando ele tenta assustá-la. Naquela noite, Amy planeja ir até o parque de diversões da cidade com seu namorado e amigos, mesmo seu pai avisando que o parque é perigoso (duas garotas desapareceram no local). Amy enrola o pai falando que vai ao cinema, mas seu irmão sabe muito bem que a garota vai partir pra farra.

Um passeio tranquilo e divertido... Será mesmo?

Hooper consegue fazer o ambiente divertido de um parque de diversões se transformar em algo assustador e macabro; nada de montanhas-russas cabulosas como em Premonição 3 (2006), aqui temos um parque normal e misterioso, como aqueles que são montados todas as horas nas cidades pequenas. Um lugar aparentemente tranquilo e descontraído para se visitar com os amigos após algumas rodadas de bebidas, com aquelas luzes brilhantes sendo acolhedoras na fria noite. Brincadeiras e sorrisos. O que poderia dar errado?

Amy fica meio encanada por mentir para seu pai, mas como aquela noite será seu primeiro encontro com o bonitão badboy Buzz (Cooper Huckabee, de Django Livre), a garota procura fazer de tudo para agradar o “namorado”, e não decepcioná-lo; aquela clássica submissão feminina retratada nos slasher dos anos 80. Buzz é marrento nos seus propósitos, mas prova ser um bom moço (sua aparência me lembra muito Harrison Ford na época de ouro). Mesmo sendo a primeira vez que Amy sai com ele, a relação é tratada com bastante maturidade, principalmente no começo do filme.

Da esquerda para direita: Richie, Buzz, Amy e Liz

Junto com o casal de pombinhos, conhecemos outra dupla de namorados bastante curiosa: a melhor amiga de Amy, uma maconheira animada chamada Liz (Largo Woodruff) e o chapado irresponsável Richie (Miles Chapin). Após fumarem alguns baseados, todos eles vão até o parque, procurando apenas uma noite de diversão e putaria. Paralelamente, Joey (o irmão menor de Amy) resolve sair escondido de casa e ir até o local para ver o que a irmã está aprontando.

O parque fica localizado em um grande campo, com música alta, lonas de circo e os trailers dos funcionários estranhos. Os jovens se divertem em várias atrações típicas deste modelo de parque, algumas até bizarras, como uma feira (em uma tenda de circo) onde são exibidas inúmeras criaturas mutantes, como uma macabra vaca de duas cabeças e até um bebê monstro preservado.

Hopper sabe provocar desconfiança e bons sustos em seus filmes, é um clima pacato que tem tudo para ser medonho. Esqueça os famosos sustos sonoros, até temos eles, mas a trama abre espaço para outras ideias. Um exemplo é quando, indo para o parque, Joey acaba sendo abordado por um velho doido em uma picape preta, lhe oferecendo carona sob a mira de uma espingarda. O público fica aterrorizado junto com o garoto, funciona muito bem, mesmo a cena não tendo nenhuma relevância na história. Outro fator que assusta é o próprio parque de diversões, um local reservado, noturno e aparentemente divertido, podendo esconder muitas surpresas. Os brinquedos não parecem confiáveis como hoje em dia, e até mesmo os funcionários são estranhos, parecem hippies caipiras que estão conhecendo a civilização somente agora.

O clássico mágico de araque! Teria coragem?

Quem ainda não assistiu deve estar se perguntando: o que tem de errado com o parque para ser palco de uma história de terror? Pensem bem... É um filme de Tobe Hooper... O que poderia ser?... É claro que aos poucos vamos descobrindo que o parque de diversões é gerenciado por uma quadrilha de psicopatas, premissa que o diretor ADORA utilizar em seus slashers. O líder assassino do local é um velho que trabalha na bilheteria da FUNHOUSE, aquelas casas malucas assombradas que tem em todo parque. Ele tem um filho que se veste de Frankenstein para assustar os jovens na entrada do brinquedo; posteriormente, é revelado que seu filho na verdade é uma criatura horrenda, com rosto branco, dentes pontudos e grito estarrecedor, usando a fantasia de Frankenstein para esconder seu rosto. E é justamente nesse brinquedo, na FUNHOUSE, que os jovens decidem se esconderem para passar a noite transando, após o parque fechar.

E os malditos jovens conseguem fazer isso! Um pouco antes fechamento, eles embarcam no brinquedo e não saem mais, ficam lá dentro mesmo, escondidos na escuridão. A FUNHOUSE é um passeio escuro, assustador e esfumaçado. Os visitantes sentam em carrinhos que passam por esqueletos, aranhas gigantes e aquele clima claustrofóbico sufocante. No entanto, após o parque ficar “vazio”, eles percebem que se meteram em uma enrascada fodida: primeiro eles presenciam um assassinato dentro do brinquedo (a vidente prostituta “Madame Zena” é estrangulada pelo maluco que se veste de Frankenstein), fazendo os jovens perceberem que eles serão as próximas vítimas.

Uma das criaturas mais intrigantes criadas por Hooper.

Um por um, todos vão sendo mortos. A criatura horrendo filha do dono prova ser um assassino sem instruções, desgovernado e submisso, obsoleto perto dos concorrentes da época, como Jason Voorhees e Michael Myers. As mortes são boas, mas nada impressionante. O clima de desorientação (dentro da FUNHOUSE) é um dos pontos mais positivos do filme; na penumbra, todos podem ser surpreendidos por golpes inesperados ou pessoas camufladas. Se trata de um pequeno clássico do horror que conseguiu manter suas referências, mesmo com algumas restrições datadas da época e pouco orçamento. É interessante ver que Hooper não mexeu com o sadismo humano desta vez, elemento favorito dos seus filmes. Ele prefere mostrar um monstro de verdade, assim como os clássicos da Universal, alá Frankenstein.

Amy é a única que sobrevive. Não tem muito que falar dela, com certeza não chega aos pés de Jamie Lee Curtis ou Marillyn Burns. Ela sabe gritar e chorar, mas com uma carga dramática inferior. O final é bom, com a criatura sendo presa nas engrenagens da FUNHOUSE. Por sorte não tivemos nenhuma continuação, pois isso só prejudicaria a imagem do filme (tenho certeza que iam fazer merda se tivesse um suposto Pague Para Entrar, Reze Para Sair 2). O filme acaba com Amy fugindo do parque, já na manhã seguinte, com todos seus amigos mortos.

Tomem cuidados com parques de diversões... Eles podem ser mortais!

É interessante ver como Tobe Hooper conduz suas histórias simples. São apenas um grupo de jovens chapados de maconha se divertindo em um parque qualquer; despreocupados e vulneráveis. O estereótipo perfeito de vitima para sofrer horrores em um slasher. Pague Para Entrar, Reze Para Sair também toca nos tabus de perdem a virgindade, sexo prematuro e outros temas que fazem parte de todas as meninas na idade de Amy, servindo para moldar a personalidade da personagem. Entretanto, ao terminamos o filme, percebemos que muitas situações só estavam ali para ganhar tempo, e não profundidade. Qual o motivo de tentarem desenvolver as motivações de Amy sendo que ela termina o filme em trapos? O que ela aprendeu com isso? E por que diabos o roteiro mostra seu irmão, Joey, indo até o parque? Ele somente pentelha no local e depois é pego pelos pais! O menino literalmente não presta pra porra nenhuma! Mas é claro, estamos falando de um slasher de 1981, a época de ouro que o terror estava dominando o cinema... Roteiro complexo o caralho! Somente queremos ver sangue de jovens, peitinhos e cabeças rolando!
____________________________________

TRAILER DE 1981:


CURIOSIDADES:
1) Steven Spielberg convidou Tobe Hooper para dirigir E.T. - O Extraterrestre, mas ele rejeitou por estar ocupado produzindo Funhouse. De qualquer jeito, eles trabalhariam juntos em Poltergeist (1982).

2) O filme foi gravado em Miami (Florida) devido as leis mais tranquilas da região; a maioria dos atores eram jovens e desconhecidos.

3) As prostitutas vistas em uma atração do parque eram verdadeiras strippers locais de Miami.

4) Tobe Hooper foi picado por uma aranha marrom durante as filmagens.

5) O título "Pague Para Entrar, Reze Para Sair" usado em nosso território nacional, na verdade é a sub-frase que ocupa o poster original: "Pay to get in, Pray to get out".

6) Segundo o ator Kevin Conway, o diretor Tobe Hooper era chamado de "Coke-Head" durante as gravação do filme. Hooper supostamente bebia 12 latas de Coca Cola por dia.


7) Hooper usou novamente alguns adereços do filme quando dirigiu o videoclipe "Dancing With Myself" de Billy Idol.


8) Uma vaca de duas cabeças e também uma com fissura palatina podem ser vistas durante o filme.


CONTAGEM DE CORPOS (6):
Assassino Freak Show Barker:
Madame Zena (vidente): estrangulada e recebe descarga elétrica de um painel na parede.
Richie: enforcado com corda, posteriormente recebe uma machadada acidental no topo da cabeça.
Liz: atacada pela criatura na tubulação, morta por golpes de garra.
Buzz: golpeado na barriga (morte offscreen)
OUTRAS MORTES:
Pai da criatura: é empurrado por Buzz e acaba empalado pelo facão gigante que servia de decoração. Logo em seguida é baleado.
Criatura: eletrocutada e presa nas engrenagens da Funhouse.

Comentários
0 Comentários

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilhe sua experiência conosco! Gostou do filme? Teve bons momentos quando assistiu? Mas lembre-se, seja educado e não cause intrigas nos comentários, do contrário, a maldição do Portal Tartárico te atormentará para sempre!

POR FAVOR, NOS INFORME CASO O FILME ESTEJA QUEBRADO (INDISPONÍVEL). O ARQUIVO SERÁ CORRIGIDO O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL.