segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Re-Animator - A Hora dos Mortos-Vivos (1985) - Crítica

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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A grande questão é: quem não gosta de um macabro trash profissional de vez em quando? Quase todos os fãs dos slasher provavelmente amam esse tipo de produção. Ahh, os anos 80... Uma época que os produtores não estavam totalmente preocupados com o que iriam mostrar em tela para milhares de pessoas. Era uma época em que se via de tudo, e se encontrava de tudo. Alguém se lembra de filmes como O Massacre na Festa do Pijama (1982) e O Rato Humano (1988)? Parecem produções que você encontraria hoje quando passasse em frente ao cinema? É claro que não, essas são perolas que somente a década de oitenta pode proporcionar. Desta vez, a criatividade dos produtores de filmes gore foi, sem sombra de dúvidas, muito ousada. Re-Animator (1985) é um clássico que muitos não conhecem, mas precisam fazer isso o mais rápido possível (principalmente os jovens pupilos cursando Medicina). Quer ver muito sangue e membros decepados em laboratório? Cabeças, crânios e muitos dedos arrancados? Personagens dramáticos? Maquiagem de primeira qualidade? Zumbis macabros? Ficção cientifica?! Re-Animator tem tudo isso e muito mais!

Quem deu o santo pontapé inicial (não só no filme, como na carreira) foi o diretor Stuart Gordon, hoje em dia muito conhecido no gênero pelos envolvimentos em O Dentista (1996), Dolls (1987) e mais uma porrada de filmes recordáveis. A história foi vagamente baseada no livro Herbert West – Reanimator, clássico de 1931, escrito pelo mestre do horror literário H. P. Lovecraft (Stuart Gordon também viria a adaptar outro conto de Lovecraft em 2001, o elogiado Dagon). A trama se mostra esperta ao focar no tema de “vida após a morte” sem nunca mencionar nenhuma religião; aqui temos um filme da ciência, isso já se torna bastante visível somente pelo pôster original lançado na época (a foto acima), que acompanha o raro VHS lançado pela extinta VTI, onde temos o filme (na versão sem cortes) com uma qualidade completamente saturada (agregando imensa qualidade na projeção), e legendas brancas, algo muito difícil de ver em fitas de vídeo, que sempre optaram pelas fontes amarelas. A produção de Brian Yuzna (veterano conhecido no gênero) continua linda. Por sorte, para quem não tem a oportunidade de assistir no VHS, a produção pode ser facilmente encontrada no Youtube com legendas, e ainda na versão sem cortes!

Re-Animator não é somente um trabalho sobre a reanimação após a morte, os temas explorados são muito mais profundos, ainda assim, a produção é completamente recheada com o bom e velho humor negro, que desta vez veio para ficar marcado. Acredite se quiser, em certo momento da trama, você acompanhará uma cabeça decepada fazendo sexo oral em uma pobre garota! Isso é somente uma das pérolas vistas por aqui, já que esse filme nos apresenta o eterno personagem Herbert West (Jeffrey Combs), jovem médico independente que desenvolve um soro químico especial, conhecido como Reanimator (substancia verde fluorescente), que consegue trazer os mortos de volta a vida.

Os detalhes que fazem a diferença!

Logo na primeira cena já descobrimos isso, ao vermos Herbert West na tentativa de reanimar seu antigo professor, o pesquisador Dr. Gruber, numa Universidade na Suíça. O experimento vai por água abaixo, pois os policiais chegam e o pegam esvaziando uma seringa no cadáver, que se levanta violentamente com seu rosto explodindo de dentro para fora (!!!). Quando o corpo volta para o chão, West é acusado pela professora do local: “Você o matou!”. O médico lança um último olhar dramático para o corpo antes de responder: “Nada disso! Eu lhe dei vida!”.

Então somos presenteados com o título Re-Animator em icônicas letras verdes, trazendo uma estética cientifica e misteriosa na abertura. A trilha sonora do filme é basicamente idêntica à canção tema de Psicose (1960), inclusive, para os mais desavisados, pode até parecer um plagio descarado. Enquanto acompanhamos os créditos iniciais, a edição nos mostra desenhos bizarros (principalmente nas cores verde e roxo) de anatomias humanas, globos oculares e outras figuras que só servem para realçar o tema proposto. É uma montagem meio longa, mas acaba se tornando viciante, pois a trilha sonora contagia e fica na cabeça (clique aqui para ouvir).

A maquiagem dos anos 80 continua excelente!

Essa abertura é suficiente para sabermos o que vamos encontrar durante os 104 minutos brutos de projeção. O médico/cientista Herbert West é completamente pirado nas ideias, apesar de possuir uma inteligência abrangente. O maluco se muda para Arkaham, Massachussets, com o objetivo de “trabalhar” na Escola de Medicina Miskatonic, local onde vamos acompanhar as melhores cenas do filme. É um hospital completo (incluindo necrotério), com aquele clima típico claustrofóbico que quase ninguém suporta. No lugar, conhecemos o médico determinado Dan Cain (Bruce Abott), o protagonista herói da vez. Como descrever Dan Cain? Simples: ele é basicamente idêntico ao personagem Ash Williams (interpretado por Bruce Campbell) na trilogia Evil Dead; um rapaz ingênuo e despreocupado que acaba sendo envolvido na tragédia involuntariamente, caindo na situação que nem um pato mole. Cain namora Meg (Barbara Crampton), a mulher que mais vai sofrer no filme, carregando seus valores emocionais. Meg é filha do Dr. Halsey (Robert Sampson), o veterano que comanda o hospital.

Herbert West e Dan Cain.

West já chega no local causando: primeiro ele arranja treta com o Dr. Hill (David Gale), provavelmente o profissional mais ambicioso da equipe, o qual ficou famoso por criar uma chapada broca cirúrgica a laser que facilita o procedimento da lobotomia (sério, esse roteiro é muito criativo); Dr. Hill também defende a teoria que o cérebro só funciona de 6 a 12 minutos após a morte, informação que não agrada West nem um pouco, pois o mesmo acredita na reanimação independente do período passado. Não demora muito para ele conhecer o médico Cain, se aproximando rapidamente do rapaz, principalmente por dois motivos: Cain é um profissional que possui problemas para aceitar a morte, isso já se torna visível em sua primeira cena, onde tenta reanimar uma mulher obesa na maca do hospital, sem sucesso após inúmeras tentativas; Cain também tem fácil acesso ao necrotério do local, oportunidade perfeita para West usar os corpos em suas experiências macabras. Como ele se aproxima do rapaz? Com muita facilidade, pois Cain estava alugando um dos quartos em sua residência, e assim sendo, o misterioso West se muda logo no começo do filme, sempre com seus óculos enormes, olhar penetrante e postura admirável.

Administrando a droga.

Quem não gosta do novo inquilino é Meg, a namorada de Cain. Ela desconfia dos motivos pelo qual o cientista passa o dia todo trancado no quarto. Cain tenta apaziguar a situação, falando que ele é um rapaz reservado, mal sabendo o que realmente estava acontecendo ali dentro.

Em uma das cenas mais intrigantes, West testa o soro no gato de Meg para reanimá-lo (encontrou o felino morto, segundo ele), isso no porão da residência altas horas da madrugada. Cain acorda com gritos assustadores e, ao ir verificar, acaba encontrando o cientista tentando matar o gato novamente, pois o mesmo voltou dos mortos e agora se encontrava alucinado, agonizando violentamente e quebrando tudo ao redor. Nessa sequência, Cain tem conhecimentos das verdadeiras intenções de West, principalmente ao ver seu gato sendo reanimado depois de morrer duas vezes, já com a costela totalmente deslocada e gritos estarrecedores. “O nascimento sempre é doloroso”, lembra West.

O gato zumbi e suas sete vidas.

Cain é seduzido pelo cientista, quando o mesmo afirma que caso essa substancia venha a funcionar, eles se tornariam lendas e viveram para sempre. O soro verde fluorescente nunca deu certo em humanos, pois West acredita que o corpo da vitima precise estar totalmente fresco e sem danos maiores; no caso, ele precisa entrar no necrotério para conseguir algum cadáver em condições, e só Cain poderia ajudá-lo nesse plano alucinado. Mas então... Alguém realmente acredita que esse plano vai funcionar? É claro que não.

A noite que eles invadem o necrotério é um show memorável: ainda em horário de funcionamento, os dois procuram serem discretos, mas ao reanimarem um cadáver morto há algumas horas, a situação sai de controle. Desesperados, eles tentam impedir a criatura, mas quem acaba se ferrando é o veterano do hospital, Dr. Halsey, o pai de Meg, que acaba entrando no necrotério e tem uma morte linda de se acompanhar. A produção mostra seu valor, com dedos arrancados explicitamente a dentadas e peitos sendo perfurados com serra de ossos, tudo isso com aquele sangue vermelho forte que era bastante usado na época. O cadáver não era fresco o suficiente, por isso não deu certo.

West consegue matar o zumbi (em uma cena que foi censurada na versão de TV), mas o Dr. Halsey acaba morrendo violentamente. Agora o filme esquenta, pois West precisava de um corpo fresco, e é justamente isso que ele tem! Sem o consenso de Cain, ele injeta o soro no Dr. Halsey, e aproximadamente após 15 segundos da dosagem, ele retorna como um zumbi completamente doido e grotesco, mas ainda mantendo níveis mínimos de consciência, como audição e autocontrole.

West detonando sua primeira "cria".

Depois desse e muitos outros imprevistos, o filme só se torna MUITO mais violento e nojento. Em uma das cenas mais icônicas (que inclusive ilustra o pôster original), descobrimos que o ambicioso Dr. Hill (aquele que havia desenvolvido a broca cirúrgica a laser) estava com planos de roubar a formula de West. Revoltado, o cientista arranca a cabeça do Dr. Hill com golpes de pá (!!!), para desse jeito, começar a testar seu soro em membros decepados! Ele reanima a clássica cabeça na bandeja, conseguindo criar um dos zumbis mais charmosos que o gênero já ostentou. Decapitado, o sinistro homem de grande estatura fica andando por aí com sua cabeça na bandeja, somente a enchendo de sangue no fundo para conseguir “respirar”. A cabeça também parece desenvolver uma grande conexão com o corpo, sendo sua guia na hora da locomoção. Sem contar tudo isso, o zumbi rouba todas as anotações e fórmulas de West para injetar a droga em todos os corpos do necrotério!

Deixando claro que o zumbi não poderia combinar melhor com outra pessoa fora David Gale, que passa da elegância para a repulsa, tendo um dos desempenhos mais interessantes do filme. Herbert West é outro ponto positivo, ele tem um poder profundo quando se refere ao tema “vida após a morte”, sempre com frases de efeito e situações divertidas, como no momento em que provoca a overdose em um zumbi, injetando duas enormes seringas do soro em suas costas. Curiosidade: Jeffrey Combs e Barbara Crampton também trabalharam com o diretor Stuart Gordon em Do Além (1986), no ano seguinte.

Dr. Hill, o eterno zumbi consciente.

Cain também acaba se revelando um grande personagem quando entra em ação, me fazendo lembrar muito Bruce Campbell na franquia Evil Dead (tanto na aparência como no desempenho). Ele é uma hesitação entre coragem e covardia, se envolvendo nessa história macabra de maneira involuntária. Ele não suporta a morte, e faz de tudo para dominá-la profissionalmente. Depois da metade do filme, seu relacionamento com Meg começa a ser mais explorado, com bastantes cenas melodramáticas (aquelas com frases emocionais e música sentimental ao fundo). Meg, por sinal, protagoniza a sequência mais perturbadora, quando é sequestrada pelo Dr. Hill (que sempre foi obcecado por ela) sendo violentada sexualmente! Isso mesmo... Enquanto vemos a garota amarrada em uma mesa de autópsia (completamente pelada), a cabeça alucinada do Dr. Hill faz a festa! Leitores, essa cena é muito bizarra! Lembre-se: nunca assista a esse filme com algum parente da família, pois vai ser constrangedor! kkkk

O sexo como jamais visto!

Já na versão exibida na TV, essas cenas quase não existem, tamanho os cortes que a censura determinou. Essa edição do filme deixa vários momentos no escuro, principalmente no final, quando West e Cain vão salvar Meg no necrotério, e acabam trombando com uma dúzia de zumbis; enquanto na versão original temos tudo explicitamente mostrado em tela (como cabeças esmagadas), na censurada não vemos quase nada (fazendo a cena ter uma duração broxante). No entanto, na versão censurada foram adicionadas muitas cenas que deixaram a história mais completa e bem explicada, mas muitas são desnecessárias.

Os zumbis do Dr. Hill são todos manipulados. Isso foi possível devido a lobotomia feita pela broca cirúrgica a laser, entregando uma nova linha de zumbis, muito mais fortes e determinados. Mesmo com as situações exageras, temos uma violência bem pesada e chocante, desde cabeças esmagadas, membros decepados e, é claro, muito sangue. Olhem só a foto abaixo: um zumbi decapitado (Dr.Hill) enforcando outro (Dr. Halsey), que por sua vez, está esmagando uma cabeça com as próprias mãos! Isso, meu amigos, é o charme de Re-Animator!

Blood! The beautiful blood!

Até mesmo o pai de Meg (Dr. Halsey, transformado em zumbi) consegue ter deslumbres da realidade e os ajudam a acabar com o vilão manipulador; isso prova que a droga de West realmente funciona, mas precisa ser muito mais aprimorada para dar conta de sua premissa. A fórmula química do soro é o verdadeiro mistério, mas a trama é tão bem coordenada que nem procuramos se aprofundar nesse assunto, pois já somos ganhos com facilidade depois de tanta violência. No meio desse mar de bizarrices, o que faz a conexão com a realidade é novamente o amor entre Cain e Meg, algo que muitos filmes usam como apoio para o público geral; é um sentimento que todos se identificam de alguma maneira, é muito difícil isso comprometer a obra. Mesmo com toda a fantasia acontecendo, o amor está ali para nos lembrar da realidade; pode parecer uma estratégia comum hoje em dia, mas presenciar esse tipo de contexto em um filme como Re-Animator, que abusa do sadismo e humor negro, é realmente gratificante.

Mais um herói solitário e amargurado.

Os últimos 10 minutos de projeção, talvez, sejam os melhores. Quando achamos que já havíamos visto de tudo, a produção no surpreende novamente, com um excelente desfecho que deixa um gancho definitivo para continuações: no meio de berros, uma cabeça sendo arremessada na parede do hospital (!!!) e muitas outras coisas grotescas, Cain consegue fugir com Meg pelos corredores claustrofóbicos do local. Já West é pego pelo que restou do Dr. Hill, e enrolado por suas tripas (!!!), o roteiro nos deixa na dúvida sobre seu destino, ele pode ter morrido ou não, algo que vamos saber somente no próximo filme.

Encurralados, Cain é surpreendido quando um zumbi queimado ataca Meg ao entrarem no elevador. Ele consegue arrancar o braço da criatura com o machado, mas já era muito tarde. A garganta da garota foi esmagada em uma triste cena trágica e, desesperado, Cain corre para a sala médica mais próxima para tentar salva a vida da esposa, já no finalzinho do filme. Quando não resta mais nenhuma alternativa, ele (portando a maleta de West) prepara uma grande injeção com o soro maldito, e ao ouvirmos a dramática trilha sonora pela última vez, acompanhamos o médico amargurado injetando a droga na esposa em uma atitude drástica, nos deixando preparados para a continuação dessa história macabra!

Um final completamente trágico.

E de fato, tivemos a continuação, só que somente 5 anos depois, com o fiel A Noiva do Re-Animator (1990), trazendo os personagens principais de volta, com um enredo muito mais ambicioso e aprimorado (porém exagerado). De qualquer jeito, esse primeiro filme continua sendo o melhor da trilogia, pois nos entrega inúmeras cenas que ficam guardadas para sempre na memória, tudo isso sem usar nenhum tipo de computação gráfica, somente efeitos práticos e maquiagens mirabolantes enriquecidas por estratégicos “jogos” de câmera. O filme tem algumas falhas visíveis em certos momentos, principalmente envolvendo a montagem principal do Dr.Hill, o nosso querido zumbi decapitado, que precisou de vários “pulos” da produção para conseguir ser retratado com perfeição. O resultado final é ótimo.

Re-Animator (1985) sempre será um marcante gore, considerado trash por muitos desavisados; isso pode ser verdade, mas a história é tratada com uma seriedade que nos faz embarcar nesse viajem alucinógena. Diferente de muitas produções trash, quando terminamos de acompanhar esse enredo sentimos um grande potencial envolvendo a produção. É uma série de acontecimentos trágicos, que nas lentes de Stuart Gordon se tornaram uma mistura incrível de humor negro e sadismo dos mais pesados. Foi o surgimento de outra lenda moderna.

“DEATH IS JUST THE BEGINNING”
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TRAILER DE 1985:

CONTAGEM DE CORPOS (mais de 10):
Assassino Herbert West:
Zumbi renascido: tem seu busto atravessado por serra de ossos.
Dr. Hill: cabeça decepada com golpes de pá (ouch!)
Assassino Dan Cain:
Zumbis: Cain consegue acabar com alguns zumbis durante a trágica fuga do necrotério, com machadas e até mesmo usando as próprias mãos.
OUTRAS MORTES:
Mulher obesa: vitima natural no hospital.
Gato de Meg: o primeiro ser morto reanimado, com as costelas quebradas e comportamento agressivo (morto duas vezes).
Dr. Hill zumbi: cabeça esmagada e corpo estourado (dando vida aos seus intestinos e tripas).
Dr. Halsey: já transformado em zumbi, é despedaçado.
Zumbi pelado: cabeça esmagada no corredor.
Meg: atacada por um zumbi na fuga do elevador, enforcada até ter a garganta esmagada, e posteriormente reanimada.

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