sábado, 24 de dezembro de 2016

Natal Sangrento (1984) - Crítica Especial de Natal

AVISO DE PERIGO: essa crítica é detalhada e contém SPOILERS, portanto se ainda não conferiu o filme, leia por risco próprio.
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Primeiramente, gostaria de desejar boas festas e muita farra para todos os leitores que acompanham o Portal Tartárico. Hoje é dia de comer muito, beber até capotar, fazer uma social com os amigos e se entupir com filmes que marcaram a época (principalmente da Sessão da Tarde), como Esqueceram de Mim (1990), Um Herói de Brinquedo (1996), Edward Mãos de Tesoura (1990), Stranger Things (2016), Batman – O Retorno (1992), De Olhos Bem Fechados (1999)... E muitos outros. No entanto, existem certas maravilhas que devem ser lembradas anualmente, uma é a curiosa franquia Natal Sangrento, que teve sua primeira produção lançada em 1984. Conhecido fora do país como Silent Night Deadly Night, esse slasher movie conta uma trama que, obviamente, se desenrola durante o aconchegante Natal, com motivações pesadas e polêmicas. Com essa crítica, iniciamos o primeiro Especial de Natal anual do Blog, onde teremos uma análise por ano de filmes sangrentos que se passam durante a data natalina, sempre atualizada durante a véspera da ocasião, como hoje.

Sei que alguns não gostam do Natal. Eu particularmente não carrego nada de religioso em minha consciência, mas mesmo assim sempre apreciei o clima natalino (época do fim de ano no geral), talvez pela forte influência que parece animar as pessoas, ou pelas boas festas e memórias. Já para os excêntricos produtores de slasher movies oitentistas, nada melhor que um banho de sangue durante a popular ceia, com direito a polêmicas envolvendo religião, sexualidade e muitos outros tabus que são discutidos até os dias atuais. Dirigido pelo produtor de televisão Charles Sellier (dono da produtora Grizzly Adams Productions e dirigindo Os Aniquiladores no ano seguinte), a história é muito boa e a recepção foi totalmente favorável por parte do público; curiosamente, a projeção lançou dia 09 de novembro de 1984, exatamente o mesmo dia que a franquia A Hora do Pesadelo estava lançando seu primeiro clássico. O filme “natalino” conseguiu se sair muito melhor que Freddy Krueger somente no primeiro final de semana, tendo uma bilheteria superior durante o período. Acontece que A Hora do Pesadelo continuou a temporada toda em cartaz, enquanto Natal Sangrento foi censurado com apenas seis dias nos cinemas. Esse ultraje agregou na grande procura pela rara película, principalmente na boa época das fitas VHS. Para quem se aventura procurando assistir a produção na internet, normalmente a encontrará somente com o áudio original e sem legendas, ou então com a péssima dublagem que sempre costuma comprometer as obras.

Enquanto revejo ao filme e escrevo essa crítica, não consigo deixar de pensar que todos cresceram com aquela típica ideia do Papai Noel amigável, acolhedor e com boas intenções. Sempre pronto para vir do Polo Norte e presentear as crianças que foram boas durante o ano; essa é a essência que todos conheceram e admiraram em algum ponto da vida, independente da idade. Transformar a imagem desse velhinho bonzinho em uma trama angustiante e perturbada é completamente genial, e temos mais um ponto positivo para agradecer aos anos 80: a simplicidade que cada assunto (ou data festiva) tem para influência inúmeras produções, como já visto em Halloween (1978), Sexta-Feira 13 (1980), Dia dos Namorados Macabro (1981) e outros slasher movies marcantes, que fizeram questão de explorar basicamente todos os feriados conhecidos. No entanto, o Natal carrega uma docilidade que une as pessoas, ou as destrói, como nesse caso.

A produção começa com uma assustadora canção protagonizada por alguma criança inspirada; acompanhamos uma guirlanda natalina crescendo lentamente em um fundo preto, até que o sangue jorra manchando nossa visão, e quando a perspectiva é limpa, vemos o título “Silent Night Deadly Night” para enriquecer o clima que já nos identificamos. Realmente, a temática de Natal é forte e única, podendo ser transmitida com simples características, como uma guirlanda e a canção assustadora. Destaque para a trilha sonora angustiante, marcada com toques astutos no piano (clique aqui para ouvi-la).

O bom e velho Natal!

Começamos na véspera de Natal de 1971, onde conhecemos um garotinho fofinho chamado Billy Chapman (Jonathan Best, típico garoto inocente), que está indo visitar seu vovô em uma casa de recuperação, junto de seus amáveis pais. Eles estão passando por uma região rural montanhosa, e Billy demonstra grande interesse pela data festiva, após remexer em um grande livro natalino intitulado “The Night Before Christmas”. Seu pai é Jim (Geoff Hansen, que mais parece uma mistura de Kurt Russell com Patrick Swayze) e sua mãe a tranquila Ellie (Tara Buckman), que juntos também levam seu outro filho, o pequeno bebê Richard. Após a curiosidade apertar, Billy fica interessado em saber quando o Papai Noel irá aparecer naquela noite, e é informado que somente após ele estar dormindo. Para quem não sabe, nesse slasher temos o prazer de acompanhar a história do ponto de vista do assassino, diferente das outras projeções, que focam mais nas vitimas e final girls; na verdade, o garotinho Billy se tornaria o serial killer da vez, devido sua história cheia de traumas perturbadores (fator que iremos acompanhar nos primeiros 50 minutos de filme, onde o roteiro de Michael Hickey nos informa basicamente tudo que precisamos saber para entender as motivações sangrentas de Billy), e tudo começa quando eles chegam na tal Clinica Mental de Utah, um local “tranquilamente estranho”.

Esse velho me assusta pra caralho.

A família encontra o vovô (Will Hare, que também participou de De Volta Para o Futuro), em estado de catatonia. Após seus pais irem conversar com o médico, o macabro velho desperta inesperadamente, e no melhor estilo Crazy Ralph de Sexta-Feira 13 (1980), alerta o menino que caso ele tenha sido um garoto travesso naquele ano, era bom fugir do Papai Noel, pois o mesmo apareceria para puni-lo. Como todos devem imaginar, o velho consegue entrar na cabeça do garotinho e deixá-lo assustado.

Paralelamente naquela noite, quando a família esta voltando para casa, um homem vestido de Papai Noel assalta um mercadinho de estrada e assassina brutalmente o gerente (com direito a um tiro explicito na testa, na melhor dinâmica de Poderoso Chefão), e ao fugir com o dinheiro, acaba com o carro quebrado no meio da estrada... Sim, leitores, adivinha quem estava cruzando a região naquele momento? Isso mesmo, a nossa família inocente!... A cena que segue é totalmente perturbadora, pois Billy tenta avisar seus pais que o Papai Noel é ruim, mas do mesmo jeito, eles decidem parar e ajudar o “bom velhinho”.

Ajudando o "bom" velhinho.

O assalto é anunciado, e quando tentam fugir, a coisa somente piora: Jim é baleado inúmeras vezes, já Ellie é quase estuprada no meio da estrada e depois tem sua garganta rasgada. Billy presencia toda a situação, escondido na encosta da rodovia, enquanto ouve seu irmãozinho pequeno chorar dentro do carro. O filme já se demonstra estarrecedor desde sua primeira fotografia, no entanto, essa cena muda completamente os rumos da trama (isso nos primeiros 10 minutos). Inocente e desprotegido, a única coisa que resta para Billy é fugir, e por sorte, consegue se manter vivo (não sabemos o que aconteceu com o bebê Richard).

O filme pula 3 anos, mais precisamente em dezembro de 1974. E acompanhamos Billy um pouco mais velho (agora interpretado por Danny Wagner), vivendo agora no orfanato Saint Mary’s, sob a condução de rígidas freiras. Billy aparenta ser um garoto tranquilo e despreocupado, mas os traumas começam a perturbá-lo sempre que o Natal se aproxima, o deixando agressivo e com atitudes estranhas, como desenhar um Papai Noel assassino em uma das lições passadas.

Papai Noel, peitos e sangue... Ótimo contraste!

O garoto só passa aperto nas mãos da Madre Superiora (Lilyan Chauvin, de Predador 2 – A Caçada Continua), uma freira charlatona, totalmente chata e opressora, que ainda tem o costume de espancar os garotos travessos e até mesmo amarrá-los na cama, como acontece com Billy após presenciar uma das freiras transando escondida em um dos quartos do orfanato (e na sequência vê o casal apanhando com cintadas após serem descobertos). Ela é uma das responsáveis por seduzir o menino com suas ideias, afirmando que todas as pessoas bagunceiras (ou que transam) são punidas de alguma forma, premissa que levará Billy a assassinar muitos casais apaixonados no decorrer da trama. A Madre Superiora transmite crueldade em cada ato, mas ainda demonstra afeto pelos órfãos, por isso a sua forma de punição se demonstra completamente inútil, somente servindo para as crianças ficarem com mais medo dela, e não respeito. A única freira que ajuda Billy é a irmã Margaret (Gilmer McCormick), que procura confortar o menino durante os traumas e até tentar ajudá-lo psicologicamente, contando coisas boas, e não agouros como os outros fazem. Por falar em traumas, Billy acaba surtando quando é obrigado a sentar no colo do Papai Noel, e não se controla em acertar um soco no velhinho, o derrubando longe (!!!); o filme não mostra, mas Billy aparenta ter sido punido com brutalidade naquela noite...

Espancar crianças no Natal, que lindo...

Com aproximadamente 30 minutos de projeção, pulamos para o ano de 1984, quando a irmã Margaret, ajuda Billy a conseguir seu primeiro emprego numa loja de brinquedos chamada Ira’s Toys, gerenciada pelo Sr. Sims. Lembrando que Billy agora tem 18 anos e é interpretado pelo galã juvenil Robert Brian Wilson. Pela boa forma física do rapaz e competência na loja, o trabalho do nosso protagonista é elogiado por meses, mas de um jeito ou de outro, a época natalina sempre acaba chegando para perturbá-lo. Sem contar que pra piorar a situação, o gerente decide colocá-lo como Papai Noel do estabelecimento!...

Misturando bebidas e sua paixão Pamela (Toni Nero) nosso jovem Billy acaba perdendo a cabeça drasticamente, e começando vários assassinatos devido ao seu trauma. No melhor estilo de Sexta-Feira 13, um por um, temos ótimas sequências, desde machadadas e marteladas na cabeça, flechadas e principalmente enforcamentos, os quais o assassino realmente foca o seu prazer. Da premissa do Natal, temos inúmeras situações que realçam a data festiva, desde Billy abrindo a barriga de sua paquera, até flechadas no peito de sua supervisora.

Billy, o galã assassino.

O filme demora para pegar no fôlego, mas a partir de agora somos recompensados pela longa espera e introdução, pois as mortes são os melhores presentes que o gênero poderia nos dar, ocorrendo muito sangue em pouco tempo, das mais variadas formas possíveis, até mesmo pregando a scream queen Linnea Quigley (de A Volta dos Mortos-Vivos) nos chifres de um veado empalhado (viva a criatividade), fora outras belas mortes, que vão desde a loja de brinquedos em que Billy trabalha, passando pelas residências pacatas na noite natalina, e tirando a vida até mesmo de dois jovens que esquiavam no meio da floresta. A premissa de Natal é perfeita e muito bem construída: temos sangue em contraste com a neve, corpos jogados ao lado das decorações típicas e luzes coloridas...  Tudo muito eficiente. Uma bela representação do que seria, de fato, um Natal Sangrento. Fora as inúmeras doses de humor negro que enriquecem o “divertimento” da data, como o clássico padre surdo que é baleado, a dupla desastrada de policiais, ou a menininha que recebe um canivete do Papai Noel como presente. Sem contar que descobrimos o que aconteceu com o “irmão perdido” de Billy, o bebê Richard, agora um garoto que também mora no orfanato controlado pela Madre Superiora.

A furiosa vingança natalina.

Já no final, quando conseguimos entender totalmente as motivações de Billy, o mesmo invade o orfanato para massacrar a Madre Superiora (já estando sendo procurado pelas forças policiais), mas após se passar por Papai Noel, ele acaba sendo baleado nas costas, com dois disparos. A única pessoa que abraça sua morte é a irmã Margaret, que se prova devota aos traumas do garoto, realmente conseguindo entender os motivos do massacre natalino. “O Papai Noel se foi”, essas são as últimas palavras ditas por Billy Chapman antes de morrer lentamente na frente das criancinhas. No entanto, Richard (seu irmãozinho caçula) acaba acompanhando a morte do irmão, e lançando um olhar macabro no machado e na Madre Superiora, não precisamos ser gênios para deduzir quem será o protagonista da próxima matança.

Natal Sangrento é divertido e assustador. Uma combinação explosiva para se degustar durante a noite natalina, assim como hoje. Não podemos deixar pérolas como essa morrerem, pois devem ser lembradas todos os anos; esses slasher movies tem uma capacidade impressionante de entreter com histórias simples e bem coordenadas. Natal Sangrento acabou virando uma franquia que hoje em dia conta com 5 filmes e um remake lançado em 2012, portanto, os massacres natalinos estão apenas começando por aqui.

Leitores, 2016 está chegando ao fim, e talvez, ele tenha sido um dos anos mais importantes que já ocorreram na história do Portal Tartárico, pois foi nesse período que o Blog retornou depois de quatro anos sem postagens. Reformulado basicamente do zero, nossa mídia se encontra mais forte do que nunca, e em 2017 teremos inúmeras novidades, que vão explorar muitos outros conteúdos, sem contar as clássicas críticas que nessa etapa, viraram o verdadeiro charme daqui. Pois bem, com o fim do ano essa será a última postagem de 2016, porque estou começando a preparar a próxima maratona e muitas outras novidades, que se iniciaram logo no começo de janeiro. Junto do nosso primeiro Especial de Natal, gostaria de agradecer todas as pessoas que acompanham o Portal Tartárico (incluindo de outras nacionalidades, especialmente os norte-americanos, alemães e russos, que se mostraram bastante presente nos últimos meses), e afirmar que isso é somente o começo. O terror sempre vai se manter presente, perpetuando em nossos corações, independente da alegria contagiante das datas festivas e das outras situações típicas do cotidiano predileto do gênero... Mas então, depois dessa longa crítica para afiar os espíritos, está na hora de encontrar com os amigos e encher a cara para não perder o costume padrão... Beber e conversar sem restrições, porque são esses momentos que fazem uma bela diferença... No melhor estilo natalino, não é mesmo? Mas, lembrem-se, cuidado! Perto de você pode ter alguém vestido como Papai Noel, provavelmente com um sorriso no rosto barbudo... Olhe bem, pois ele pode estar empunhando um machado ensanguentado! Feliz Natal!
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TRAILER DE 1984:

CONTAGEM DE CORPOS (14):
Assassino Papai Noel:
Dono do mercadinho: baleado em assalto.
Jim: baleado dentro do carro.
Ellie: violentada e posteriormente tem a garganta cortada.
Assassino Billy Chapman:
Andy: enforcado com pisca-pisca.
Pamela: estômago aberto com faca.
Ira Sims: golpeado na cabeça com martelo.
Helen: flechada no estômago.
Denise: pregada nos chifres de um alce empalado.
Tommy: arremessado por janela.
Mac: decapitado com machado.
Padre: baleado por escopeta.
Oficial Barnes: acertado com machado e arremessado da escada.
William: baleado pelas costas com escopeta.
OUTRAS MORTES:
Billy Chapman: baleado por policiais.

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